O dia começou como centenas de outros
- terrivelmente. Já era ruim o suficiente estar na Judeia, mas era um inferno
passar as tardes quentes em uma montanha rochosa supervisionando a morte de
batedores de carteira e de agitadores. Metade da multidão insultava, metade
chorava. Os soldados agarravam. Os sacerdotes administravam. Era um trabalho
ingrato em uma terra estranha. Ele estava pronto para que o dia acabasse antes
mesmo dele começar.
Ele estava curioso com a atenção dada
ao camponês de pés chatos. Ele sorriu quando leu o sinal que estava na cruz. O
condenado parecia qualquer coisa menos um rei. Seu rosto estava inchado e
machucado. Suas costas arqueavam levemente e seus olhos olhavam para baixo.
“Algum caipira inofensivo”, pensou o centurião. “O que ele poderia ter
feito?”
Então Jesus levantou sua cabeça. Ele
não estava bravo. Ele não estava preocupado. Seus olhos estavam estranhamente
calmos enquanto olhavam por trás da máscara de sangue. Ele olhava para aqueles
que o conheciam - movendo deliberadamente de rosto em rosto como se tivesse uma
palavra para cada um.
Ele olhou para o centurião apenas por
um momento - por um segundo o romano olhou nos olhos mais puros que já tinha
visto. Ele não sabia o que o olhar significava. Mas o olhar fez com que ele
engolisse e sentisse seu estômago vazio. Enquanto ele olhava o soldado agarrar
o nazareno e jogá-lo no chão, alguma coisa lhe disse que este não seria um dia
normal.
Com o passar das horas, o
centurião se achou olhando cada vez mais para aquele que estava na cruz
central. Ele não sabia o que fazer com o silêncio do nazareno. Ele não sabia o
que fazer com a sua bondade.
Mas acima de tudo, ele
estava perplexo com a escuridão. Ele não sabia o que fazer com o céu escuro no
meio da tarde. Ninguém podia explicar... ninguém nem tentou. Em um minuto o
sol, no seguinte a escuridão. Em um minuto o calor, no seguinte a brisa fria.
Até os sacerdotes estavam em silêncio.
Durante muito tempo o
centurião ficou sentado em uma rocha olhando as três silhuetas. Suas cabeças
estavam sem firmeza, às vezes rolando de um lado para o outro. O zombador
estava em silêncio... assustadoramente em silêncio. Aqueles que choravam, agora
esperavam.
De repente a cabeça no centro parou de balançar. Ela ficou ereta. Seus olhos abriram em um lampejo. Um rugido cortou o silêncio. “Está consumado”(João 19.30). Não foi um brado. Não foi um grito. Foi um rugido... um rugido de leão. De que mundo esse rugido tinha vindo o centurião não sabia, mas ele sabia que não era deste mundo .
O centurião se levantou da pedra e deu alguns passos em direção ao nazareno. Ao se aproximar, ele poderia dizer que Jesus estava olhando para o céu. Havia algo em seus olhos que o soldado precisava ver. Mas depois de apenas alguns passos, ele caiu. Ele se levantou e caiu novamente. A terra estava tremendo, suavemente no início e agora violentamente. Ele mais uma vez tentou andar, conseguiu dar alguns passos e depois caiu... aos pés da cruz .
Ele olhou para cima para o rosto deste
que estava à beira da morte.
O Rei olhou para baixo para o
centurião velho e ríspido. As mãos de Jesus estavam presas; elas não podiam se
estender. Seus pés estavam pregados na madeira; eles não podiam andar até ele.
Sua cabeça estava pesada por causa da dor; ele mal podia mexê-la. Mas seus
olhos... eles estavam em chamas.
Eles eram inextinguíveis. Eles eram os
olhos de Deus.
Talvez tenha sido isso que fez o
centurião dizer o que ele disse. Ele viu os olhos de Deus. Ele viu os mesmos
olhos que foram vistos por uma adúltera seminua em Jerusalém, uma divorciada
sem amigos em Samaria e um Lázaro morto há quatro dias em um cemitério. Os
mesmos olhos que não se fecharam ao ver a futilidade do homem, não se recusaram
a ver a falha humana e não estremeceram ao testemunhar a morte do homem.
“Está tudo bem”, disseram os olhos de
Deus. “Eu tenho visto as tempestades e mesmo assim está tudo bem”.
As certezas do centurião começaram a
jorrar como rio. “Este não era um carpinteiro”, ele falou em voz baixa. “Este
não era um camponês. Este não era um homem normal”
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