"Encha-nos
de Cristo Jesus para vermos, ouvirmos e agirmos como ele." Lucas 11.28-41
Mas Jesus respondeu: — Mais felizes são aqueles que ouvem a mensagem de Deus e obedecem a
ela (Lc.11.28)….
Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de você são bons, todo o seu corpo fica
cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de
escuridão. Portanto, tenha cuidado para que a luz que está em você não seja
escuridão. (Lc.11.34-35)….
Quando Jesus acabou de falar, um fariseu o
convidou para jantar na casa dele. Jesus foi e sentou-se à mesa. O fariseu
ficou admirado quando viu que Jesus não tinha se lavado antes de
comer. Então o Senhor disse a ele: —
Vocês, fariseus, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro vocês estão
cheios de violência e de maldade. Seus tolos! Quem fez o lado de fora não
é o mesmo que fez o lado de dentro? Portanto, deem aos pobres o que está
dentro dos seus copos e pratos, e assim tudo ficará limpo para vocês.
(Lc.11.37-41)
Em boa parte do Evangelho de Lucas, Jesus
trata da maneira apropriada de ouvir, ver e exercitar a verdade.
Em todos os casos, o padrão de discernir a verdade foge do
padrão costumeiro. Os fariseus e muitos líderes religiosos não aceitavam isso
na época de Jesus, e muitas pessoas não aceitam este padrão até hoje.
Parece irracional demais, um misticismo
romântico mas perigoso, e uma negação do bom senso. É curioso que quem me
escreve com um protesto parecido (especialmente uma pessoa é assídua na sua
critica) não consegue apresentar contra argumentos e sim, apenas ridiculariza a
interpretação apresentada.
Mas esta visão da verdade, a epistemologia de
Jesus, é radical mesmo, e desafia, sim, as bases do racionalismo moderno.
Considere, por exemplo…
Primeiro, a audição… onde se viu que o importante da audição seja
obedecer? Não, somos ensinados que a capacidade auditiva se mostra por meio da
boa expressão, pela gramática correta, pela dicção precisa e pela lógica das
ideias. Jesus diz, entretanto, que quem ouve bem, pelo menos a sua
mensagem, é quem sabe colocar em prática. Ou está dizendo outra coisa?
E a visão?
A visão não é simplesmente uma questão
de enxergar com clareza? Ver o que é sem adornos?
Mas Jesus acrescenta uma dimensão ética à
visão. Claro que está falando metaforicamente. A visão não é neutra. Os filhos
do Iluminismo, os racionalistas, rejeitam categoricamente esta afirmação, mas
os pós-modernos, já há muito tempo, reconhecem que a objetividade é ilusão. Só
que Jesus insiste na dimensão não simplesmente subjetiva, mas ética. São os
olhos bons que enxergam direito, e não os olhos maus. Ou seja, é
preciso a adoção de um sistema de valores para que a verdade seja vista e
exercitada.
E por fim, o corpo todo. Hoje, graças a Deus,
há uma conscientização maior a respeito do cuidado do corpo. A obesidade e a
preguiça se tornaram alvos da crítica publica, e com razão. Queremos saúde
física interna e externa. E queremos saúde emocional. Essa não era a questão
que Jesus estava tratando nesta passagem, mas sim, uma espiritualidade para
inglês ver. Isto é, Jesus criticava uma espiritualidade que regulamentava o
menos importante, a “consagração” pessoal e individual, e neglicenciava o mais
importante, a justiça social. “Adorar a Deus” virara desculpa para ignorar o
nosso próximo. E Jesus simplesmente, como muitos outros profetas dentro e fora
das Escrituras (penso na comunidade de Qumrã e os movimentos apocalpticistas),
queria colocar as prioridades onde deveriam estar.
Religião que não desemboca em transformação
social é francamente nojenta. Deus é compassivo e seus seguidores O honram ao
serem o mesmo.
Já pensou se estes princípios regessem a vida
pessoal? Já pensou se regessem a vida da igreja. E imagine como seria a vida
pública se houvesse ação e não mera retórica, ética e não mera análise fria,
compaixão e misericórdia e não apenas cerimônia…
Oração
Grandioso Deus, confessamos a nossa falta de
visão, pouca ação, e frieza diante das angústias do nosso mundo. Encha-nos de
Cristo Jesus para vermos, ouvirmos e agirmos como ele. No seu nome. Amém.
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